"Me fale um único livro clássico."
"Não posso. Sou incapaz de pensar na escrita de maneira singular. Ler um clássico deve ser melhor do que não lê-lo, suponho."
Ela, que já havia feito a mesma pergunta a outros tantos, ficara fascinada com a resposta inédita. As mulheres latinas têm dessas manias peculiares de admirar o intelecto apurado. Era um homem inteligente e Ela sempre ficava feliz quando encontrava homens inteligentes e seguros, e não aqueles outros que não a olham de frente e têm a cretina mentalidade oculta de macho-brasileiro.
Estavam sozinhos, com pressa, com calor. Se amaram por muito e muito tempo e ela sentiu todos os prazeres de todos os sentidos e, neste espaço de tempo, esteve presente e entregue ao seu amante ideal.
As horas passaram e todo o prazer carnal fez-se cansaço, fumaça e HBO. Comentavam esporadicamente aleatoriedades e comentavam as atuações das atrizes gêmeas, trigêmeas, quadrigêmeas, iguais. Um silêncio premedita o realismo tenebroso.
"Sabe quando você me perguntou sobre o livro?"
"Hm..."
"Pois então... Se tivesse me perguntado sobre games..."
Seu corpo suou frio e ela atentou-se ao que viria depois.
"Eu escolheria Winning Eleven do Play três!"
Ela levantou da cama nua, e foi toda atordoada em direção à cozinha. Apanhou um copo d'água e relembrou dolorosamente da noite de amor que, a essas alturas, nem havia sido tão boa assim.
Postou-se em frente à janela da sala com o copo na mão e observou a estante. Umas garrafas de bebidas estranhas, um porta-retratos com fotos de pessoas comuns, uma caneca de Corinthians, algumas taças simbólicas, elefantinhos, poeira e, estrategicamente posicionado, atrás de algumas quiquilharias, ela avista um livro solitário e desconsolado. Sorriu por dentro e aproximou-se esperançosa. Antes de que pudesse chegar a tocá-lo, leu perfeitamente, sob a luz do quarto, intrometida, que iluminava parcialmente à sala: "BRIDA - Paulo Coelho".
Já era tarde.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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